sexta-feira, 27 de maio de 2011

Raízes

Muita gente se tem perguntado porque me ando a meter no assunto de Moimenta, se, a acreditar no que digo, nem sequer sou do Concelho.
Hoje, por aqui está calor, e não me apetece fazer grande coisa. Como tal vou explicar o porquê.
De há décadas a esta parte, que Portugal, todos o sabemos, é Lisboa, Porto e o resto é paisagem. Talvez Coimbra em tempo de aulas, também o seja, e o Algarve (não Allgarve) em tempo de férias, e mesmo assim não todo.
Mas porque isto aconteceu? Alguém especializado em Sociologia ou Antropologia, ou até mesmo Psicologia o poderá explicar. Eu apenas darei a minha humilde opinião.
É sabido que as gentes do interior sempre foram olhados por algumas pessoas das cidades como os aldeões, quando o adjectivo usado não era ainda mais depreciativo. Ao longo das décadas, houve uma discriminação clara entre as grandes cidades e as cidades do interior, mais ainda quando se trata de pequenas aldeias. Normalmente lembram-se das cidades em tempos de eleições, de algumas aldeias nem por isso. O número de votantes não é significativo que justifique a deslocação de um candidato a tal local remoto. No entanto, a maioria dos membros do parlamento é precisamente do interior, mas apenas cuidam dos seus bolsos, não das suas gentes.
Na maioria dos casos, aqueles que sempre olharam para as gentes do interior como Portugueses de 2ª, eram eles próprios originários do interior. É um pouco o mesmo fenómeno que se passa quando se apontam dedos aos outros, é normalmente, quando não há razão sólida, para esconder os nossos próprios.
Algo que a Sociedade esqueceu ao longo do que é chamado Evolução, tudo depende do sentido que se olha, é que todos nós, sem excepção, tem origens no chamado Povo Rural. A Ruralidade surgiu muito antes das grandes cidades, até do que das pequenas. É o Mundo Rural que alimenta o Mundo Inteiro. Não se cultiva no alcatrão nem no betão, estes são apenas meios para a locomoção de todos nós, e do que é produzido nesse mesmo mundo rural, que, principalmente, após a entrada na União Europeia, nos tiraram e nos continuam a querer tirar.
Foi precisamente esse mesmo interior que serviu de tampão e resistência a todas as invasões externas. Certo que chegaram às grandes cidades, mas já devastados por todo um Povo.
Raro, hoje em dia, é ouvir como tenho ouvido, pessoas com orgulho nas suas raízes, na sua terra. Por mais pequena que seja. Dizer "Eu sou de Moimenta de Maceira Dão", ou "Eu sou de Espinho-Mangualde", ou "Eu sou de Gandufe", ou qualquer outro local, seguido normalmente da pergunta "Onde é que isso fica?", é algo cada vez mais raro, mas digno de louvor. Digno de nos querermos associar com esta gente.
Tal como uma árvore não vive sem as suas raízes, Portugal tem vindo a definhar porque alguns lhes arrancam as raízes, sejam Portugueses ou não. Quando se come uma maçã que nos agrada, não perguntamos de que ramo ela saiu, mas sabemos que veio de uma macieira. E esta só é forte e produz bons frutos, quando as suas raízes são fortes, resistentes, duras.
É isto que, em primeira instância, tem faltado a Portugal. Fortificar as suas raízes, para que os frutos que dele saiam sejam fortes, saudáveis e saborosos.
É também por isso, que há que aproveitar ao máximo os recursos naturais que temos. Seja no litoral ou no interior, em pequenas aldeias ou grandes cidades. É preciso olharmos Portugal como um todo, senão corremos o risco de um destes dias não existirmos, ou estarmos cingidos a meia dúzia de pontos no mapa. Quando pessoas, em Portugal, lutam pela justiça de um palmo de terreno, estão a lutar também pelo que é de todos nós portugueses. Neste caso, a zona em questão é, em primeira instância, Moimenta de Maceira Dão, mas no fundo é Portugal também. E se começamos a admitir que venham os "Novos Visigodos" apropriar-se do que não é deles, mais tarde ou mais cedo eles chegarão às grandes cidades e a todo o lado. Por isso, talvez seja altura de repensar mentalidades, lembrar que não há rivalidades entre aldeias e cidades, há sim, rivalidades entre quem se aproveita disso para meter mais algum nalguma conta off-shore para viver um vida de luxo à conta das gentes do interior e da cidade. Todos estamos no mesmo barco, e todos teremos de remar numa só direcção, ou andaremos sempre às voltas e, mais tarde ou mais cedo, seremos apanhados por uma onda e iremos ao fundo.
Bem-hajam.

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