quarta-feira, 27 de abril de 2011

Batem leve... muito levemente!

Que o Gil me perdoe, mas voltou-me a veia poética. É certo que é praticamente uma variz, em lugar de uma veia, mas é o que se pode arranjar:

Batem leve, levemente,
como quem rouba a mim,
Será o Zé Azevedo? Será Gente?
Gente não é certamente,
só o Azevedo bate assim.

Também podem ser os censos
que passam em velocidade
mas há pouco, há poucochinho,
nem um papel bulia
na quieta melancolia
da relva do meu jardim...

Quem rouba, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que só agora se ouve, só agora se sente?
Não é chuva, nem é gente,
é o Zé Azevedo com certeza.

Fui ver. Os papéis cairam
entre as grades cinzas do portão,
brancos e rosa, molhados e frios...
Há quanto tempo os não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho através da vidraça,
só vejo Moimenta... de Espinho nem sinais,
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
como Moimentenses locais...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de um presidente de Junta,
que de Espinho parece criança...

E descalcinho, dorido...
a rua deixa ainda vê-los,
primeiro, algo definidos,
depois, em soluços compridos,
sem ninguém a apoiê-los (só para rimar!)...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas o Zézinho, Senhor,
porque o fizeste de burro doutor?!...
Porque padece assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
De ouvir tanta pobreza
nas palavras de um aldrabão.

Versão adaptada do grande Augusto Gil.

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