Sociedade Auto-Imune

Hoje, apetece-me escrever num tom mais sério. Não que os anteriores não o tenham sido, claro que sim, mas acho que hoje vou deixar ironias, piadas e ataques do lado de fora.
Pela manhã, nas notícias vi, como todos, o que aconteceu durante a noite no Estádio de Alvalade, os confrontos entre adeptos e dirigentes, a propósito das eleições do clube. Confesso que não sou adepto do Sporting, nem grande adepto de futebol, daqueles que vão ao Estádio ou metem baixa quando o seu clube joga. Embora simpatize, por vezes até possa ir ao Estádio (especialmente com convite), e goste que o clube da minha eleição ganhe, mas confesso que a ideia de ver 22 gajos a correr atrás duma bola em calções não é propriamente a minha ideia de divertimento.
Claro, que logo me surgiu à ideia o novo slogan do clube "A partir de agora ninguém nos bate... nós batemos em nós próprios!". Durante horas não liguei mais ao caso.
Mas mais tarde pus-me a pensar, algo que faço raramente, e somente aos Domingos 1 hora por dia, para não me cansar... e embora não seja analista, psicólogo, nem nada que se pareça, veio-me à ideia do que possa estar a acontecer ao País. Pessoalmente, acho que nos estamos a tornar num País Auto-Imune. E passo a explicar: tal como uma doença auto-imune, onde resumidamente o corpo se ataca a si próprio, que é um pouco como se ser alérgico a si próprio, o que não é muito agradável, comecei a imaginar os adeptos desta noite, que no fundo são do mesmo clube, da mesma côr, da mesma crença desportiva, e no fundo agridem-se a eles próprios, qual organismo auto-imune que na prática se combate a si próprio. Não sei se será caso para alarme, eu pessoalmente penso que sim.
Os "desacatos" de hoje, segundo percebi deveram-se a que até à ultima urna apurada um dos candidatos estava tão destacado, que até os jornais da manhã o davam como novo presidente do Sporting, nada fazendo prever o volte face que ocorreu na ultima urna, onde estavam os votos dos sócios mais antigos, onde na prática, um voto pode valer 10, 20 ou mais votos, coisa que não percebo, mas aceito. O clube nem é meu!
E foi daí que surgiram as agressões, insultos... na prática a porrada toda. E isto leva-me a pensar se não será o reflexo da sociedade que temos vivido nas ultimas décadas. Desde os tempos da 1ª República, passando pela Ditadura, a Liberdade subita, até à Libertinagem de hoje em dia. O facto de, na prática, dentro de uma instituição, neste caso o Sporting, ou numa sociedade, noutro caso Portugal, haver uns a valer mais que outros. Onde a vontade de poucos se sobrepõe à vontade da maioria. Penso que foi o que aconteceu neste caso, qual panela de pressão que tem enchido com os desenvolvimentos da crise nos ultimos tempos, com a prepotência dos nossos Governantes, sejam eles locais, regionais, nacionais ou mesmo internacionais, foi como se um pequeníssimo rastilho se tivesse acendido, onde era suposto as pessoas se divertirem e gritassem "Mas até aqui somos enganados?!".
Como referi em posts anteriores, é imprudente hoje em dia andar a enganar as pessoas, até porque numa sociedade onde a informação é tão fácil de obter, torna-se ridículo, ou bacoco como dizia alguém, enganar o vizinho do lado. Mais tarde ou mais cedo ele vai descobrir e não vai gostar.
Daí achar que nos estamos a tornar uma sociedade Auto-imune, onde em cada pequena injustiça reflectimos as grandes injustiças do Mundo, e à mais pequena faísca é como uma caverna onde o metano se acumula e o simples faiscar, uma centelha de um fósforo fizessem explodir e aniquilassem tudo à sua passagem. A quem supostamente toma conta das Instituições, do País e do Mundo, penso que é chegada a hora de haver uma mudança de estratégia, uma aposta na verdade. Como qualquer doença é preciso atacar não apenas os sintomas mas principalmente a causa, e a causa aqui é a prepotência de uns em seu próprio proveito e dos conluíos instalados em detrimento de todo um organismo que é uma Nação ou até a própria Humanidade.
Neste caso como o de Moimenta de Maceira Dão, embora tenha havido outros em Pombal, Cantanhede e penso que não só onde houve erros, embora aqui não sejam apenas erros, é preciso e obrigação de quem supostamente dirige um Concelho olhar para a sua população como sendo os seus. Faz algum sentido incendiar guerras entre populações vizinhas, quando na maioria dos casos até têm amigos em comum?! Não faria mais sentido lutar por um Concelho harmonioso, onde todos lutassem pelo mesmo em vez de uns contra os outros?! É o mesmo que o braço direito bater no esquerdo e o esquerdo ir bater no direito, quando o organismo é o mesmo, é ridículo! No entanto, demonstra que o problema está no cérebro, ninguém que seja bom da cabeça se espanca a ele próprio!
Se o problema não é loucura, então estamos a falar de organismos diferentes, ou interesses externos, que fazem com que estas coisas aconteçam. Assim sendo, das duas uma, ou se cura a loucura ou se muda os factores externos. Um organismo assim não pode sobreviver!
Bem hajam, e uma boa semana!